
Faça o que eu faço
janeiro 27, 2011Quando eu era criança, meu pai costumava dar bronca porque a gente mudava de canal muito rápido (a TV é parecida com essa ao lado. I’m that old). Um dia, eu o vi fazendo exatamente o mesmo. Imediatamente, acusei: mas você tá fazendo. Ele respondeu: Faça o que eu falo, não faça o que eu faço.
O tempo passou e a frase ficou, colada no meu cérebro. Acho que foi uma das primeiras vezes em que senti impotência – e uma enorme injustiça. Foi algo que sempre lutei contra, e continuo fazendo isso. Não que meu pai seja mau por ter dito aquilo. Era um adulto pego no flagra por uma criança. Ele não tinha como justificar o comportamento. Então apelou.
E o que isso tem a ver com esse blog? Mais do que no gogó, a gente lidera pelo exemplo. É importante lutar, reclamar, reivindicar. Não tenho dúvidas quanto a isso. Mas um protesto silencioso é algo muito poderoso. Lembro de uma vez em que estava esperando o metrô e uma menina amassou uma folha de papel e “escondeu” em cima do extintor de incêndio. Sem nada dizer, fui em direção ao papel. Antes que pudesse chegar, ela fechou a cara e falou “Eu sei, tá?” e pegou o papel, colocando-o no bolso.
A razão desse post é que, nos últimos anos, venho testando diversas abordagens para tentar alavancar mudanças nos comportamentos que, sinto, são nocivos ao bem público. Tudo começou lá atrás quando eu percebi que era possível – e necessário – fazer algo de diferente, ter um impacto positivo no mundo. A fase inicial – e também a mais mala – é do proselitismo. A gente se encanta com as coisas e quer contar para todos o quanto é legal fazer assim e assado. É também a fase em que você conhece uns radicais e quem sempre esteve com você dá aquele discreto passo para trás, para longe de você. 😉
Mas a fase passa e logo veio, ao menos pra mim, a fase da conversa mais franca, menos proselitista. Por outro lado, era costume falar das mazelas, da dificuldade, de como os hábitos que eu tinha deixado para trás eram terríveis. É falar de acidentes, poluição, de fim do mundo mesmo. Mad Max Style.
Aí, mais essa fase vai embora e fica a certeza de que mais do que apontar o dedo, a melhor forma de tocar as pessoas e mostrar que você as entende, se identifica com elas. Mais do que reclamar, importante é inspirar. Afinal, ações falam mais que palavras (insira aqui a famosa frase atribuída a Gandhi) e a gente não ensina nada a ninguém: muito menos a fórceps.
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Ae Vitor…
Sim, as fases. O tempo e a gente se surpreende com os outros, e o que é pior, com a gente mesmo. É quando se descobre em nós mesmo as idiossincrasias, aquelas atitudes que saem completamente fora do nosso velho e sensato comportamento esperado, aquilo que sabemos há tempo como certo e nos pegamos errando, quase por cansaço de tanto ter feito certo.
Talvez seja essa a próxima fase, “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, “porque eu tô cansado de saber como é o certo, fiz assim quase uma vida inteira, e vê se não me torra o saco, me esquece !
Talvez seja assim, começamos errando muito por pouco saber e refletir, então amadurecemos e refletimos muito e apuramos cada gesto, por fim, cansados de tanto apuro, tanta auto censura, nos desviamos de nós mesmos como que em auto benevolência…e quem sabe tudo isso também passa mais a frente, sempre tem mais alguma coisa a conhecer. O novo logo envelhece, e o que será o proximo novo ? Espere o envelhecer lhe contar.
abraço
Márcio Campos
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